quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Brasil, um país de mentira.


Já passava de uma da manhã e a estrela Sírius ia se despedindo. Olhando um pouco para o oeste deste astro pude localizar o cinturão de Órion – famosa Três Marias – e divaguei sobre o esplendor dos céus, sobre a grandeza do que há lá fora e, quase nietzscheanamente, sobre o que há aqui dentro.
Pensei em como as pessoas de outras épocas podiam considerar o mundo como sendo plano, afinal, tudo fica girando. Mas tudo bem, isso parece óbvio para nesse século, mas nem sempre foi assim.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios e eras – nesse mundo contemporâneo até os milésimos de segundo fazem toda diferença e se transformam em recordes mundiais. Às vezes fico imaginando com deveria ser o mundo e, principalmente, a vida por volta dos anos de 1300. Vou mais fundo e me vejo no meio de batalhas épicas entre gregos e o resto do mundo. Tento conceber como deveriam ser os sentimentos, os passatempos, as conversas em momentos de escuridão, na calada da noite, sem muros para ‘proteção’. Dois amigos, um casal de namorados, um pai com um filho ou uma oração para os deuses. Até consigo visualizar e ouvir os surros dessas conversas no ar, chegando aos meus ouvidos 2000, 3000, 4000 mil anos depois de serem lançadas a esmo, mas de nada importa, isso é o que EU consigo imaginar e criar, não é o que aconteceu realmente.
Pego alguns livros de História, uso de alguns artifícios para potencializar a criatividade e então... nada! As informações contidas ali não são do cotidiano, são apenas fatos grandiosos que deveriam ser passados adiante. Pouco me importa, eles não me contam como era o mundo antigo. Não me contam seus medos, suas brincadeiras, a essência de sua fé, o motivo de seus risos, os sonhos que não foram alcançados, a garota tão desejada, as festas, as bebedeiras, os melhores amigos, etc. Não vejo nada disso. Vejo Política, Cultura, Sociedade e Economia. E pergunto: isso define ou explica um povo? Não. Ou pelo menos espero que não. Imagine daqui 2000 anos um homem tentando fazer História sobre nossa vida: ‘era um povo que não se importava com cultura, a música deles só falava de festa, carro, mulher (ou homem), todos faziam faculdade – não importa a idade e bebida. Política era algo distante do imaginário dessa sociedade. Educação existia no papel, mas na vida real ninguém se importava ou dava valor e a economia? Que economia?’ Ou melhor: ‘era um povo que cultuava o corpo através de suas músicas, o consumo desenfreado era a força motora dessa sociedade, todos tinham curso superior e, nesse estágio, decidiam ser músicos ou seguir outra carreira. A Política era pouco importante e era deixada para ladrões, mentirosos e pessoas sem formação intelectual. A Economia era baseada na livre iniciativa e todos podiam enriquecer e ter a vida de reis.’ Somos isso? Provavelmente é o que escreverão. Piada!
Somos uma equação impossível de responder, uma gama de misturas que continuam a se misturar e reformular as características de nossa sociedade. Somos um povo analfabeto, mas aprendendo a dar valor na educação. Somos um povo sem cultura porque roubaram e mataram a nossa, mas agora tentamos recriá-la. Acreditem, Rio de Janeiro não é funk, favela e droga; São Paulo não é fábrica, poluição e gente morta; Porto Alegre não é praia, gay e chimarrão; Curitiba não é neve, pessoas autossuficientes e solidão; Florianópolis não é só calor, gente bonita e maconha; Nordeste não é deserto, facada e cabra; Amazonas não é floresta, índio e bicho; Bahia não é carnaval o ano inteiro, gente preguiçosa e acarajé; Goiânia não tem só cowboy, sertanejo e homem corno; Cuiabá não é o lugar mais quente do mundo, tererê e pantanal, o Brasil não é a 6º potência econômica do mundo, o Lula não foi um ótimo presidente e o pobre de hoje ainda é pobre.
O que quero expor com isso é que devemos redefinir nossa identidade, senão, num futuro, seremos uma historiografia digna de dó, sem relevância para estudos e taxados como uma mentalidade atrasada, assim como já somos.
‘Alternativas são oferecidas, não impostas.’ - disse Gessinger. Posso passar a vida dizendo que sou gênio sem mover uma palha ou posso realizar um trabalho que mude o pensamento do mundo todo e ganhar esse título. Cabe a cada um escolher a mentira que quer acreditar.
Os governantes desse país deveriam pensar nisso, mas estão ocupados demais manipulando dados estatísticos para dizer que estamos em desenvolvimento ao invés de investir em infraestrutura para que possamos crescer e nos tornar uma potência de verdade.

Bife’s

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