I
Estava ali atento, esperando
a segunda virar terça – como diz Humberto – e ansioso pelo seu próximo texto
que viria. Com um pouco de louvação e outro tanto de inveja, comecei a me
perguntar como que, para ele, poderia ser tão fácil, como poderia ser tão
simples. Quase todas as suas frases são frases que eu gostaria de ter dito,
suas análises são análises que eu gostaria de ter feito e isso acabou me causou
certo incômodo.
Senti isso outras vezes,
duas pra ser sincero. Hermann Hesse e Nietzsche. Só que dessa vez foi algo
diferente. Eu havia assistindo ao Pouca Vogal no domingo anoite, estou
esperando o ‘Nas Entrelinhas do Horizonte’ chegar as minhas mãos – a Stereophonica
conseguiu demorar mais do que o normal para o envio – e ambas as coisas me
causaram e causarão fascínio por um longo tempo ainda e foi então que me fixei
nas perguntas ali acima.
Lembro-me das descobertas de
criança, de adolescente, de quase adulto e de todas as descobertas que virão.
Foram fascinantes. Entender (ou pelo menos pensar que entendo) algumas coisas
do mundo, da vida, das mulheres e, principalmente, de mim. Um deslumbre, de fato.
Foi então que obtive a minha tão procurada resposta. Não é ele, sou eu.
Continuo respeitando a sua
forma de arte, de ver o mundo e de entendê-lo. Ainda sei todas as suas letras
publicadas. Guardarei com orgulho seus livros e discos na minha estante e,
sempre que possível, irei aos seus shows e lançamentos. Quero uma foto ao seu
lado e pretendo tê-la em breve, mas algo mudou, porque agora eu entendo que seu
brilho é obra minha e entendi que posso ser o brilho de alguém, desde que ela
assim o queira.
Sou uma tentativa de músico,
misturado com uma frustação de poeta, que tenta ter um gênio intelectual
através das ciências humanas e do conhecimento de mundo. Não me vejo acima da
massa, nem melhor, apenas desprendido das ilusões que ela ainda insiste em
aceitar. Certo ou errado? Não sei. É o modo que escolhi para minha vida e cada
ser humano tem que encontrar o seu meio de viver bem consigo e com o mundo.
Tarefa difícil, mas digna.
Cada passo é um mundo que se
destrói e um mundo que se reconstrói. Somos uma tentativa breve de dominação do
meio, um segundo de erro na obra de Deus e da Natureza. Uma contramão numa via
de mão única que uma sabedoria superior tentou criar para preservar a sua
existência. Mas deu errado, e logo o sistema imunológico dela irá nos retirar
de seu corpo.
Agora irei para mais um
tentativa de versos, deixando um abraço pro Humberto e com o corpo leve por saber
que me desprendo dessas dúvidas também.
Um bom dia, uma boa tarde e
uma boa noite.
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