terça-feira, 17 de julho de 2012

Sobre a estrada


Final de semana em outros ares (mas com o mesmo oxigênio – talvez com mais carbono), em outras retas (mas ainda retas), com outras metas (mas ainda metas) e com outras companhias (mas ainda acompanhado). Percurso curto na ida, longo na volta. Parece sempre ser assim. À volta para casa nos remete a rotina, a rotina nos remete ao tédio e ao cansaço. Acredito que os sábios chineses foram mais inteligentes, tanto na teoria quanto na prática da busca pela paz espiritual, do que os ocidentais.


Falando nesses sábios, conheci um novo (velho) sábio. Novo para mim, velho para o mundo. – Miyamoto Mushashi (1584 – 1645). Genial! Não pela sua invencibilidade, mas pela sua capacidade de enxergar o que ninguém mais via.
Assim como a estória de Michelangelo, que retirava a pedra da escultura e não a escultura da pedra, como muitos pensam, Mushashi via armas de combate onde nós, mortais, vemos apenas leques, remos e madeira. Ele também viu a paz onde nós, humanos, vemos apenas solidão, exclusão, falta de aceitação e incompetência. Fácil? Para eles. Nós vivemos em um mundo mais complexo e somos cegos a uma diversidade de possibilidades. Outro detalhe: nós nos preocupamos mais com o que os outros vão pensar de nossa solidão e incompetência do que com o que nós mesmos vemos sobre elas.

Isso me levou a pensar no trajeto da viagem e na parábola de Nietzsche sobre o andarilho e o viajante. Fui um andarilho magnífico na ida, não pensei em momento algum na chegada (não era o que eu realmente queria), então me foquei no horizonte, no pôr-do-Sol que me cegava e me trazia paz, nos carros que por mim passavam, em cada detalhe que nos escapa, no vento balançando as árvores e em cada placa que me dizia para ‘não correr’ e ‘não morrer’. Pensei ao passar por todas elas: ‘- Não se preocupem placas, minha vontade de viver é maior do que a sua de me querer vivo.’ A volta foi um fiasco. Um mero viajante, como todos os outros. Duas noites sem dormir bem e me alimentando com um digno combatente da Idade Média, trouxeram o cansaço e a vontade de meu lar. Mal vi a estrada, a não ser quando quase atropelei uma blitz policial devido ao sono.


Tudo muda quando nós mudamos. Esse é o segredo do mundo. Vou contar outro segredo. Mudar e mudar podem parecer palavras iguais, mas, na verdade, estão longe de serem semelhantes. A metamorfose que acontece quando mudamos é vista pelas pessoas. A metamorfose que acontece quando mudamos só pode ser vista por nós mesmo. No nosso interior, em nossa alma e na paz que ela acalanta. Cabe a cada ser entender qual a diferença entre elas e a hora que cada uma deve ser entoada.

Um texto curto, mas diz muito mais quando se está em silêncio, sozinho, com medo de se conhecer de verdade e descobrir sua verdadeira essência.

Bife’s

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Da vida incerta.


O frio tão esperado chegou. Não o frio que eu esperava, mas um frio ameno, gelado e em apenas dois períodos do dia – ao amanhecer e ao cair da noite. Um mundo que cada vez mais lembra os desertos. Frio na madrugada até o raiar do Sol, calor desconcertante durante o dia e frio insuportável após anoitecer. Tudo bem, mais um incerteza entre tantas outras.
É sobre isso que vou falar.
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Dia desses notei como as pessoas dizem que a vida é feita de incertezas. Eu até pensei assim algumas vezes, mas após ver a frequência que a vida era ‘tão incerta’, resolvi refletir a respeito.
A vida não é incerta. Pronto. Foi essa minha reflexão. Mas para o mundo não basta concluir, o mundo quer explicação, então vamos lá.
A vida segue paradigmas, segue caminhos, segue tendências. Você é um espelho do meio. Desde o espermatozoide fecundando o óvulo até o momento de sua morte. Isso acontece porque somos bombardeados por ensinamentos, por costumes, por gostos e pela influência da classe social que nascemos e vivemos. Não vou enfatizar o momento de criança, quando pai, mãe, televisão, amigos e ídolos formam a nossa cabeça. Vou tentar trabalhar a ideia de vida adulta, porque é geralmente nessa fase que os humanos fazem as devidas reclamações e já conseguem fazer assimilações.
A faculdade: um momento crucial para a vida e para o futuro. Você a escolheu. E começarão a dizer: “mas não era isso que eu queria, eu preciso trabalhar de dia, então não pude fazer o curso que queria” e dirão “eu não tinha dinheiro para pagar tal curso” e mais ainda “só tinha em outra cidade, estado, país e eu não tinha como ir pra lá” e eu digo: CORRETOS! A vida segue tendências e é influenciada pela classe social que nasce e vive (e a que vive pode mudar). Diante disso o que você fez? Escolheu outro caminho. Fez outra faculdade ou, assim como meu irmão, não a fez, foi trabalhar, ficou rico e mudou de classe social, podendo, quem sabe, mudar a vida de seu filho. Não foi uma incerteza, foi um fato concreto e com muita certeza que te levou a fazer determinada escolha.
O emprego dos sonhos: você faz o que você é capaz de fazer. Deveria encerrar aqui o discurso, mas querem explicações. Se você ganha R$400,00 por mês e vive na miséria a culpa é sua. Se você fosse bom e alguma coisa a faria, cobraria por ela e ganharia seu tão querido dinheiro. O capitalismo permite isso. Se você se acomodou com a sua situação e colocou em adoração uma possível mudança, contente-se. É o segredo do capitalismo. Você pensa que pode mudar, mas não pode. Não é incerto isso. Muitos são incompetentes para o mundo capitalista. Eu sei que sou, tenho certeza disso. Basta você querer enxergar.
A futura esposa e os seus filhos: Não tem nada mais concreto que isso. Gravidez indesejada? Camisinha estourada? Esqueceu de tomar o remédio? Não deu tempo de tirar? Engravidou mesmo tomando o remédio certo? MENTIRA! Existem milhões de contraceptivos para ontem, hoje e amanhã. Você transou porque quis, com quem quis (ou com quem sobrou) e não se precaveu pelo mesmo motivo. Simples assim, sem segredos. Se fizesse corretamente o uso de remédios, de camisinha e de safadeza não estaria reclamando disso. E quanto ao filho, o mesmo contexto. Ponto final.

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Ontem fiz uma música de incertezas e contradições, espero que gostem. Ia colocar a letra junto, mas estou com preguiça de escrever.


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Muitas pessoas dizem que a vida é incerta devido ao perigo iminente de morte. Assim como a vida, a morte também não é incerta. Problema de saúde, acidente de carro, avião, navio, motocicleta, pedalinho, jet-ski, avalanche, assassinato, etc, não são por mero acaso, mas não vou explicá-los aqui, quem sabe em um próximo texto. Deus nos deu uma vida e devemos uma morte a Ele. Para quem não acredita. O Big-Bang e a evolução nos deu elétrons, prótons, nêutrons, hidrogênio, oxigênio e a Bóson de Higgs (pra quem é leigo em Física é a famosa partícula de Deus) e devemos devolver ao Universo o que um dia pertenceu a ele. A vida é tão certa quanto à morte. Acredite. Nós que complicamos tudo pelo medo do desconhecido.

Bife's

domingo, 1 de julho de 2012

III - Contradições.


Conciliando acontecimentos da vida com filosofias que adquiro com o desenrolar dela e com leituras, é assim que procuro escrever minhas linhas, afinal, muitas pessoas passam pelas mesmas coisas, só que as enxergam com outros olhos – sem dizer se isso é bom ou ruim – e, ás vezes, um ponto de vista diferente sobre o mesmo assunto clareia nossa vida.
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Nunca dei muita atenção ao ‘seria’. Penso que a vida é curta demais pra hipóteses sobre uma vida ou um modo de viver. Também nunca pensei muito no futuro. Penso que a vida é longa demais para ser baseada em ‘planos’. O que aconteceu comigo é o que acontece com todos, só que sem as ilusões impostas pelo mundo. Eu fui vivendo.
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Quando criança meus pais diziam: ‘Você tem que estudar!’ – com exclamação, porque nem sempre fui dedicado aos estudos. A adolescência foi um período interessante, ‘metamorfosiante’ pode-se dizer. Conhecendo o mundo lícito e o ilícito, descobrindo o conceito de amor e o de putaria, sendo guiado por obscuras bandas de heavy, trash, black e prog metal. Descobrindo o que era fazer escolhas, mas sem muita noção de um caminho a seguir, então, por vezes, sem fazer as melhores ou mais proveitosas. Amigos iam e vinham até se definirem. Mulheres iam e vinham e eu não me definia. Bebidas iam e vinham e eu defini: ‘Todas.’ Querendo entender o violão e o mundo das bandas de rock. Um pouco precoce se comparado às outras pessoas (não faço comparações ou as evito ao máximo), cheguei à faculdade com 17 anos. Mundo novo, a mente em alta velocidade, muito conhaque se seguiu nesses dois anos – curtos para minha vontade de mundo, longos para meus estudos, em vão na minha carreira de Administrador, louvável para fazer amizades, para conhecer uma dezena de cidades que nem sonhava existir e para fortalecer minha ideia de Ciências Humanas. 19 anos, o destilado de cana e os maços de cigarro faziam parte da minha rotina. Trabalhando em outra cidade e cursando História numa cidade ainda mais longe, resolvi morar sozinho. Ideia genial. Auto sustentabilidade, liberdade, visitas à casa dos pais para dar orgulho aos progenitores e tendo um sentido na vida. Festas, bebidas, bebidas, festas, mulheres. Pensava: ‘“Sempre vou ser assim.” E, de fato, eu queria ser assim. Metas, retas e planos. Eu era concursado, cursava o nível superior, amigos, casa, ideias e vontade de seguir em frente nesse caminho, mas a vida não permite planos, nem metas e quem dirá retas.
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Isso está parecendo um daqueles textos de autoajuda (HAHA). Não vou aqui explicar como ocorreu uma mudança significativa na minha vida, não quero e não devo. As pessoas veem o que precisam ver, escutam o que têm necessidade de escutar. Cabe a cada um encontrar o seu eu, abrir mão de todos os seus ‘meus’ e entender que muitas pessoas querem os ‘seus’, mesmo que nada seja delas. O fator de posse, de ter e de poder ser dono de algo é reconfortante, por isso os animais de estimação, que não são tão estimados assim, os objetos de luxo, que tem um preço para seu conforto pessoal e mental, o ‘seu’ carro, a ‘sua’ casa, o ‘seu’ (ua) namorado (a), o ‘seu’ amigo, a ‘sua’ bebida, a ‘sua’ música favorita. Um mundo de contradições, não?!
Talvez essa seja a ‘minha’ visão.

Um passarinho que corre
Um monge pornô
Um homem que voa
Um masoquista que não gosta de dor

Uma bala de festim
Numa arma de brinquedo
A Guerra Fria de um mundo
Que traz consigo o medo

Uma banda de samba
Que toca rock n roll
Um país que passa fome
E, com orgulho, grita gol!

Uma rede social
Cheia de privacidade
As plantações do campo
Que sustentam a cidade

O velho que quer ser novo
O novo que quer ser velho
Os políticos que são piada
E se dizem homens sérios


De todas as contradições, existem poucas que respeito. Einstein e Eddington. ‘Alemanha’ e Inglaterra. Teórico e prático. Primeira Guerra Mundial. Um grande passo pra humanidade, numa época de incertezas.
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Como o texto lá de cima, onde sabia meu caminho. A contradição da minha vida foi uma contradição. Eu seria o mesmo, não acreditava em fatores psicológicos. Devido a eles eu mudei. Contradição dentro de contradição. Encontre sua contradição. Os maiores gênios se contradiziam constantemente, mas seja uma contramão da contradição, senão será apenas mais uma contradição sem sentido.
Irônico? Ao menos pra mim...

Bife’s