sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Algumas coisas que penso


- ‘Renan, enquanto você não parar com essa ironia você não vai ser ninguém!’
Foram as palavras de meu pai após uma briga que abalou nosso relacionamento. Eu estava com 17 anos, era petulante, me considerava esperto. Cinco anos mudam tanta coisa.
E se me perguntassem á cinco anos atrás:
- ‘O que é mais importante, seus amigos ou seus pensamentos?’
Responderia sem hesitar:
- Meus pensamentos!
E se me perguntassem á dez anos atrás:
- ‘O que é mais importante, seus amigos ou seus pensamentos?’
Responderia se hesitar:
- Meus amigos!
E se me fizessem essa pergunta hoje, o que eu responderia?
Foi a perguntou que se agarrou em meu pescoço após fazer um comentário a uma amiga sobre minhas amizades.

Ironia. Ironia.
A vida é irônica, o mundo é irônico, os fatos são irônicos, a ciência é irônica. Se existe uma explicação para isso? Sim. A vida, o mundo e todo o resto são feitos pelo homem. Logo: a evolução e o desenvolvimento do homem são irônicos. Por quê?
Essa é fácil de responder:
- O que você queria ser quando criança? Você conseguiu ser? A mulher que você mais amou é sua amiga, namorada ou esposa? Seus melhores amigos de hoje são os seus inseparáveis companheiros de dez anos atrás? Você tem a vida que imaginou ter quando tinha 12 ou 16 anos? Os mistérios que tanto te assombravam hoje rondam sua mente? E os segredos que você guardou há cinco anos, hoje fazem sentido pra alguém? As verdades absolutas que você ousou descobrir ainda são reais em sua cabeça? E assim eu poderia ir até amanhã, brincando de perguntas que a maioria das respostas seria não.
A maioria, porque de algumas questões podem surgir um sim como resposta para uma ou outra pessoa.

Não desprezo o ensinamento do meu coroa, afinal ele é um sábio e esta 26 anos na minha frente. Numa escala evolutiva eu seria uma célula e ele um tecido, mas a ironia pode ser o segredo do mundo e, se eu deixar de ser irônico, talvez eu realmente não seja ninguém.

Conversando com um ‘camarada’ – psicólogo e muito inteligente – ele julgou minhas falas como se eu tivesse obtido a verdade absoluta para a vida no mundo palpável e material. Ele se utilizou de um argumento assim:
- ‘Bifão, quando eu estava na faculdade, com uns 21, 22 anos, eu li alguns livros e pensei que tivesse sacado o segredo de várias coisas, mas era ilusão minha.’
Concordei, mas entendi o que ele havia dito na verdade:
- ‘Não se iluda pensando que você sabe alguma coisa, porque você não sabe!’
Certo? Errado?
Cada ser humano possui seus mistérios, seus problemas, suas dores, suas desilusões, suas conquistas, seus amores, etc. Não posso responder essa pergunta, apenas penso que o maior segredo do mundo – a vida – às vezes pode ser explicado lendo um papel de bala, então amigo, não generalize.
Algumas pessoas podem não saber de nada e ter uma compreensão da vida que um gênio não teria, simples assim.
Se sou uma dessas? De maneira alguma.

Sei algumas coisas que me permitem continuar sem complicações e isso já me basta. Sei que vivemos num mundo de construções, que foram moldadas de acordo com a vontade de poucos para manipular muitos, sei que o mundo cristão-católico-ocidental não é uma verdade absoluta e nem o único modo de vida, sei que as pessoas morrem, que os amores acabam, que os amigos se vão, mas sei também que outros amigos aparecem, um amor maior e mais inteligente reaparece, cada ser humano é único e não adianta generalizar, quanto mais estudamos menos sabemos, porque entendemos que o conhecimento é infindo, sei que a mudança é a única coisa que permanece, sei que o medo é o principal motivo da infelicidade – medo de morrer, de ficar sozinho, de não ser querido por todos, de não ser ‘popular’, de não ser capaz de realizar certas coisas, etc. – sei também que o tempo passa pra todo mundo e não tem como fugir dele.
Verdades? Mentiras? Piadas? Inutilidades?
Deixo a seu critério.
São fatos que observei em minha vida e que fazem sentido pra mim. Me permitem ser feliz, realizado e capaz de viver sozinho por toda a eternidade.

E se fico com os amigos ou com os pensamentos?
Hoje fico ambos, porque se forem concretos permanecerão, caso contrário, serão passageiros.

Bife’s

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Brasil, um país de mentira.


Já passava de uma da manhã e a estrela Sírius ia se despedindo. Olhando um pouco para o oeste deste astro pude localizar o cinturão de Órion – famosa Três Marias – e divaguei sobre o esplendor dos céus, sobre a grandeza do que há lá fora e, quase nietzscheanamente, sobre o que há aqui dentro.
Pensei em como as pessoas de outras épocas podiam considerar o mundo como sendo plano, afinal, tudo fica girando. Mas tudo bem, isso parece óbvio para nesse século, mas nem sempre foi assim.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios e eras – nesse mundo contemporâneo até os milésimos de segundo fazem toda diferença e se transformam em recordes mundiais. Às vezes fico imaginando com deveria ser o mundo e, principalmente, a vida por volta dos anos de 1300. Vou mais fundo e me vejo no meio de batalhas épicas entre gregos e o resto do mundo. Tento conceber como deveriam ser os sentimentos, os passatempos, as conversas em momentos de escuridão, na calada da noite, sem muros para ‘proteção’. Dois amigos, um casal de namorados, um pai com um filho ou uma oração para os deuses. Até consigo visualizar e ouvir os surros dessas conversas no ar, chegando aos meus ouvidos 2000, 3000, 4000 mil anos depois de serem lançadas a esmo, mas de nada importa, isso é o que EU consigo imaginar e criar, não é o que aconteceu realmente.
Pego alguns livros de História, uso de alguns artifícios para potencializar a criatividade e então... nada! As informações contidas ali não são do cotidiano, são apenas fatos grandiosos que deveriam ser passados adiante. Pouco me importa, eles não me contam como era o mundo antigo. Não me contam seus medos, suas brincadeiras, a essência de sua fé, o motivo de seus risos, os sonhos que não foram alcançados, a garota tão desejada, as festas, as bebedeiras, os melhores amigos, etc. Não vejo nada disso. Vejo Política, Cultura, Sociedade e Economia. E pergunto: isso define ou explica um povo? Não. Ou pelo menos espero que não. Imagine daqui 2000 anos um homem tentando fazer História sobre nossa vida: ‘era um povo que não se importava com cultura, a música deles só falava de festa, carro, mulher (ou homem), todos faziam faculdade – não importa a idade e bebida. Política era algo distante do imaginário dessa sociedade. Educação existia no papel, mas na vida real ninguém se importava ou dava valor e a economia? Que economia?’ Ou melhor: ‘era um povo que cultuava o corpo através de suas músicas, o consumo desenfreado era a força motora dessa sociedade, todos tinham curso superior e, nesse estágio, decidiam ser músicos ou seguir outra carreira. A Política era pouco importante e era deixada para ladrões, mentirosos e pessoas sem formação intelectual. A Economia era baseada na livre iniciativa e todos podiam enriquecer e ter a vida de reis.’ Somos isso? Provavelmente é o que escreverão. Piada!
Somos uma equação impossível de responder, uma gama de misturas que continuam a se misturar e reformular as características de nossa sociedade. Somos um povo analfabeto, mas aprendendo a dar valor na educação. Somos um povo sem cultura porque roubaram e mataram a nossa, mas agora tentamos recriá-la. Acreditem, Rio de Janeiro não é funk, favela e droga; São Paulo não é fábrica, poluição e gente morta; Porto Alegre não é praia, gay e chimarrão; Curitiba não é neve, pessoas autossuficientes e solidão; Florianópolis não é só calor, gente bonita e maconha; Nordeste não é deserto, facada e cabra; Amazonas não é floresta, índio e bicho; Bahia não é carnaval o ano inteiro, gente preguiçosa e acarajé; Goiânia não tem só cowboy, sertanejo e homem corno; Cuiabá não é o lugar mais quente do mundo, tererê e pantanal, o Brasil não é a 6º potência econômica do mundo, o Lula não foi um ótimo presidente e o pobre de hoje ainda é pobre.
O que quero expor com isso é que devemos redefinir nossa identidade, senão, num futuro, seremos uma historiografia digna de dó, sem relevância para estudos e taxados como uma mentalidade atrasada, assim como já somos.
‘Alternativas são oferecidas, não impostas.’ - disse Gessinger. Posso passar a vida dizendo que sou gênio sem mover uma palha ou posso realizar um trabalho que mude o pensamento do mundo todo e ganhar esse título. Cabe a cada um escolher a mentira que quer acreditar.
Os governantes desse país deveriam pensar nisso, mas estão ocupados demais manipulando dados estatísticos para dizer que estamos em desenvolvimento ao invés de investir em infraestrutura para que possamos crescer e nos tornar uma potência de verdade.

Bife’s

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sobre os erros e o tempo


‘Porra bicho! Que dor é essa no meu ouvido?’ – foi a primeira pergunta, feita a primeira pessoa do singular e na primeira Segunda-Feira do mês de agosto.
- (...) – foi o que obtive como resposta.
Claro! Eu perguntei a mim mesmo e, se eu soubesse a resposta, provavelmente não teria feito à pergunta.
Tudo bem. Resolvi continuar o dia sem pensar no que me incomodava, afinal, sou mestre na arte de não me importar com as coisas e com suas possíveis consequências. Talvez eu até tenha um pé na Ataraxia. (o google tá aí para as dúvidas)

Seguindo a primeira rotina que criei para a primeira vez que fiquei desempregado, levantei da cama, tomei o primeiro remédio do dia para a primeira - e única até agora – doença que me surgiu, degustei com desejo o primeiro banho do dia e fui para academia pela primeira vez nessa semana.

‘Porra bicho! De onde saiu tanta gente?’ – foi a segunda pergunta, feita a terceira pessoa do plural e no segundo lugar que eu comparecia nesse dia tão estranho.
- (... haha) – foi o que obtive como segunda resposta para minhas dúvidas.
Claro! Todos resolveram mudar de horário e todos resolveram treinar costas no mesmo dia em que tonifico o lugar de minha tatuagem. Genial. Brasileiros adoram filas - agora até em aparelhos de academia.
Tudo bem. Como não ligo para ordens e sequências, apenas mudei os exercícios e não me deparei com ninguém nas máquinas que pretendia usar.

Voltei do treino cansado, cavei um buraco para plantar uma árvore que minha mãe tanto pediu – Manaka? Desconheço abruptamente espécies de árvores e plantas (o google tá aí para as dúvidas, mas não irei lá agora) – e, feito isso, resolvi abrir minhas caixas de e-mail. Primeiramente abri o Gmail – em vão como todas as outras vezes e, por isso, só o abro uma vez -, depois o Hotmail – e-mails da faculdade como todas as outras vezes e, por isso, só o abro uma vez – e, para finalizar, o Yahoo – onde deixo o que mais me importa e minhas responsabilidades e, por isso, também só o abro uma vez – mas ali havia algo que me interessou.

‘Porra bicho! Como pode ter tanta coisa para arrumar?’ – foi a terceira pergunta, feita para a primeira e para a terceira pessoa do singular, ao ler terceira correspondência virtual e na terceira caixa de e-mails que abri. Coincidência? Não acredito.
- (08 linhas do que deveria ser alterado) – foi o que obtive como resposta para o meu segundo projeto de mestrado, enviado ao primeiro professor com o qual identifiquei minha linha de pesquisa.
Claro! Desenvolvo meus projetos por conta e risco, sem auxílio e fico feliz que tenha erros – seria desgastante não errar e, com o tempo, não poder errar. Muita cobrança para uma pessoa tão pequena. Prefiro o luxo de poder consertar.
Tudo bem. Ele me elogiava no final – disse que identificava um grande potencial em minha pessoa e que não deveria desistir – e, se eu não errasse, não haveriam elogios no ‘gran finale.’



Sentei, li novamente meu trabalho e... não fiz nada. Resolvi que hoje vou curtir minha dor no ouvido, praguejar os Estados Unidos da América nas Olimpíadas, comemorar a primeira medalha de ouro do Brasil nas argolas, torcer pela segunda, me impressionar com a China, com a Coréia e com o Japão com suas ‘máquinas’ e reclamar que estou desempregado.
A vida é curta demais para vivermos apenas trabalhando, longa demais para vivermos sem um trabalho, boa demais para que não possamos ter uma ou outra dor, ruim demais se não pudermos esquecê-las e chata demais se sempre estivermos certos e os outros sempre errados.

Ah é, já ia me esquecendo. Não ligo também para primeiro, segundo, terceiro... milésimo. Fiz a brincadeira por causa das Olimpíadas. Sou o segundo filho, 12º no primeiro vestibular, 16º no segundo e 10º no terceiro. Já fui 28º em um concurso público, 10º em outro e, no mais recente, 1500º (o google tá aí caso não acreditem). Fui o primeiro de umas duas e o centésimo de outras tantas. O primeiro livro que li era de piadas, o segundo era didático e os melhores estão em últimos colocados.
Então, faça como os livros, se não for o primeiro, seja o melhor.

Bife's