quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Retratos

Vindo de tempos longínquos, antes da era "www.", vivendo em um mundo muito mais real e quase nada virtual, longe dos tablets e dos smartphones, dos polegares opositores que não serviam apenas para digitar a próxima mensagem e das latas de cerveja que ainda eram brancas (sim, eu vivi isso), lembro-me de como a vida era, em uma breve comparação em como ela é.

Os amigos na esquina, as rodas de tererê e violão, o mundo era bem maior quando não tínhamos tanto acesso à informação.
Críticas à parte, apesar de hoje fazer uso de inúmeras tecnologias que, sob o meu ponto de vista, mais afastam do que aproximam, nunca fui um precursor delas. Não tive computador quando todos tiveram, não tive celular quando todos tiveram, com a internet idem, o mesmo aconteceu com o facebook, depois com o smartphone e, não diferente, o whatsapp. Acredito que dentro de mim já existia uma predisposição para ser um chato a cerca desses assuntos, mesmo que hoje os utilize por horas diariamente e precisar refletir sobre excluir ou não o meu facebook. Parece piada de mal gosto... antes fosse.

Porém, o que faz meus dedos moverem as teclas não é uma reflexão sobre a égide que hoje vivo e pertenço, mas sim sobre as relações que vejo aflorarem cada vez mais.
Através de toda a tecnologia, de toda a velocidade disponível para downloads e uploads, dos inúmeros aplicativos de bate-papo, de imagens de vídeo simultâneas (aqui e em Marte), o que mais consigo perceber é a carência.
O que a Revolução tecnológica tem nos mostrado é a necessidade dos humanos de verem e serem vistos, de serem invejados, de possuírem um conhecido enciclopédico sobre todo e qualquer assunto e da exaltação do ego acima de tudo. Penso por alguns instantes em como Freud se assustaria com esses conflitos de ego gritantes em nossas sociedades.

Duro de crer, mais difícil ainda aceitar. As máquinas já fazem parte de nós, em breve faremos parte delas. A inversão de valores atual é desesperadora. Estamos carregados de discursos vazios, estamos nos enchendo cada vez de nada e ficando cheios de coisa nenhuma. O mais impressionante disso tudo é que qualquer pessoa que leia isso vai se autoiludir dizendo que não é assim.
Até quando não conseguiremos olhar para dentro de nós mesmo? É de impressionar.
Aprendemos a nos enganar e a nos cegar. Perdidos, pedindo um pouco mais de atenção. 

Não consigo descrever exatamente o que estou sentindo nesse momento, mas é uma impotência frente a tudo isso, um "mãos atadas" que não vão mais se desatar. Triste de ver. Dentro de casa, em cada esquina.

As esquinas não eram assim, as casas tampouco. O futuro chegou... espero que o próximo futuro venha mais a calhar. 

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