Numa de minhas frequentes viagens a uma cidade vizinha, eu estava acompanhado de uma figura interessante que sentava ao meu lado. Entre palavras notava-se que era um homem inteligente, com uma bagagem muito acima da média de leitura e um cara mais velho, com um pouco mais de experiência que eu. Eu, por outro lado, estava longe de estar no meu melhor dia, havia “traído” uma namorada minha, minha consciência pesava, porque até então não tinha feito isso, e eu também estava com um pouco de medo, por não sabe o que aconteceria após essa atitude minha. Enfim, quando notei que esse homem que me acompanhava poderia me ajudar, resolvi então desabafar. Expliquei a ele meus problemas, minhas tristezas e meus medos e perguntei:
- Meu, você já traiu alguma mulher sua?
E ele respondeu que sim. Então tornei a perguntar:
- E como você se sentiu?
E ele respondeu que tinha se sentido a pior pessoa do mundo.
Pensei –“esse cara está me entendendo, talvez ele possa aliviar minha dor”- estão continuei:
- E o que você fez para melhorar? Para esquecer que tinha feito isso? Para se sentir bem ao lado dela?
E foi quando ele respondeu:
-“Continuei traindo até me acostumar”.
Sim, minha reação foi exatamente essa. Um silêncio, um momento de reflexão e um sorriso.
Não julgo pelo fato de respeito, pois cada um sabe o que faz com sua vida. Não julgo por nada, na verdade. Mas foi o ensinamento, o modo de viver a vida de uma maneira que até então eu desconhecia. Foi ver que o a ideia que ninguém teria era a mais simples de todas, de viver em paz de verdade, de não se prender e muito menos se preocupar. Foi ver que uma frase pode mudar uma vida completamente. Foi ver aquele sorriso que eu dei, e que nunca poderia ter dado, não saiu mais de meu rosto. Foi entender, naquele exato momento, que certo e errado são apenas ponto de vista. Foi ver que pra viver bem você depende apenas de você.
Penso que, se não fosse por essa frase, hoje eu não sonharia, nem de longe, ser a pessoa que eu sou. De viver o que vivi e passar pelo que passei. Eu o agradeci algumas vezes e, num gesto engraçado da parte dele, fingiu muito bem que não entendia porque eu o agradecia tanto. Era um dos raros, e ainda bem que estava ao meu lado. Nos despedimos no momento em que eu descia do ônibus, e ele entendeu bem o que havia feito comigo.
Um comentário:
Bifão, chorei literalmente!
Caralho! Isso foi em 2002, 2003, no máximo 2004. Passando pelo tiro de guerra! Este texto já é antológico desde já e desde antes! Que massa! Fiquei completamente de cara!
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